quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Minha Cartinha ao Papai Noel

Prezado Papai Noel,


Há  muitos anos, mas muitos anos mesmo, eu escrevia minhas cartinhas para você, na esperança de ganhar algum presente.  Ia dormir logo após a Missa do Galo,  para poder acordar cedo e olhar para debaixo da rede (só vim a dormir em cama, Papai  Noel, na adolescência, mas nada que me queixe, porque era uma alegria tamanha aquele embalo da rede).
Lembro-me dos meus 6 aos 11 ou 12 anos, o  ritual de deixar a sandália debaixo da rede, porque mamãe dizia que você deixaria um presente. Nunca descrevi o presente a ser pedido. Qualquer presente que você me deixasse, naquela Noite Mágica, fazia-me tão feliz!
Ao  acordar, a bela surpresa! Bonecas, fabricadas em plástico duro, que não permitia-lhes qualquer movimento. Olhos pintados, simulando que eram de verdade; ou, em outro Natal, conjunto de panelinhas. Tudo muito simples, mas dado por você, Papai Noel, tinha um valor imenso.
Dia seguinte, as crianças estavam alegres, cada uma mostrando o que você deixou para elas, entrando pela chaminé ou pela janela de nossas casas. Nossas simples casas.
Só muito tempo depois descobri que você é uma bela  invenção, que acalenta as noites de Natal; que traz esperança, sonhos, alegrias até mesmo para quem já não é criança.
O meu bom velhinho!
Mas percebo, que mesmo com o passar dos anos, você continua com a missão de tornar mágica a noite de Natal, tão mágica como foi aquela noite, em que nasceu Jesus.
De certa forma, talvez Ele o use como Seu mensageiro (vá lá entender o que se passa na cabeça dessas pessoas especiais, não é?).
O tempo passou. Já não olho para debaixo de  minha rede, para surpreender-me com o que você trouxe para mim. E agora durmo em cama, rsss. Mas tenho acompanhado, mundo afora, o quanto milhares de crianças vivenciam esse sonho. Elas depositam em você, Papai Noel, pedidos dos mais simples ao mais extravagante. No fundo, elas querem mesmo é ter a certeza de que você AINDA existe.
Mas este ano, Papai Noel, alguém me deixou um "presente" que eu não pedi. Um tanto antecipado. Ainda nem era período natalino.
Fui obrigada a aceitar e, confesso, não me trouxe nenhuma alegria.
Por que terá sido, Papai Noel? Será que foi uma "provocação", para eu nunca mais duvidar da existência do bom velhinho? Ou terá sido por eu não mais lhe ter escrito minhas cartinhas?
Então, Papai  Noel, cá estou! Escrevendo-lhe, para dizer que o presente me surpreendeu - não, me assustou! - Quase caio para trás. E não foi você, meu bom velhinho, quem me trouxe o presente (ou a notícia). Foi um médico!
O que houve? Algum problema no tráfego, com as renas? Não me comportei bem este ano? Não acredite em fofocas, Papai Noel. Eu me comportei muito bem. Até eu me orgulhei de mim!
Sei que esse tipo de presente muitas pessoas recebem. E, então, por que eu também não receberia, não é? Estou até começando a aceitá-lo.
Eu apenas fiquei assustada, Papai  Noel. Para 2017 fiz tantos planos. Um deles seria conhecer uma turma supimpa, lá das bandas de Cabral (aquele, que descobriu que índios já habitavam o Brasil).
Caminhar até a bota ficar cansada. Conversar até o dia raiar, com a Daisy e Alfredo, em Aveiro (ouvir as histórias desse casal que só não conhece a Amazônia, porque ele tem medo de ... onça). Conhecer o Paulo Moura, vulgo PM, que me "introduziu", juntamente com a SãoRosas, no meio dessa turma super legal.
Ah, Papai Noel! Não me apronte essa. Ainda quero dar um abraço no Dom e em sua (especial) Celeste.
Será que daria para conhecer onde o Quito vive, com a São? E o Tonito? Os Carlos,  Carvalho e Viana? Tantos outros. Outros tantos!
Bem, despeço-me por aqui. Leia com bastante carinho minha cartinha, Papai Noel. Aproveite e leia tantas outras, com o mesmo carinho. Atenda aqueles pedidos, que sabemos que será um presente para toda a Humanidade: os pedidos de Paz para o Mundo.
Quanto ao seu presente antecipado... quero pedir-lhe um favor...se eu conseguir ultrapassar essa etapa... você promete não mandar mais nenhum ANEURISMA para mim e para mais ninguém? Promete?
De qualquer forma, Papai Noel, tenho mais a agradecer... do que mesmo a pedir.
Tenha um Feliz Natal...Aliás, que todos tenhamos um excelente!

Chama Mamãe

P.S. Não sei quando você receberá esta cartinha. O mundo modernizou. Bem capaz chegar em  tempo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Como a flor...

Olá...


Há muito não tenho vindo ao blog. Não foi por escassez do que  escrever. Não! A todo instante, meus pensamentos, como a máquina mais célere, enchiam até minh´alma, tanta a abundância. Os motivos foram outros, que me deixaram afastadas daqui.

 Ainda que à luz do pensamento, conduzia minha vida  apalpando na noite, e, como ébrios,  desatinado era o meu caminho. Como se, de repente, as águas de um rio, por longo tempo retidas, tivessem sido soltas sobre mim, afogando-me, sem qualquer defesa.

Quantos foram os momentos, que se tornavam eternos,  que me  perguntei  sobre as  culpas e pecados, quiçá herança de minha mocidade?  Mas que herança será  essa, que não  encontro, embora incansável a busca,  quando memorizo cada cena desse tempo nem tão longínquo?

Uma mocidade mais cheia de  proibições, do que mesmo de liberdade para ter cometido tantas transgressões. Seria eu, então, como  a flor, que  nasce e impressiona,  mas depois murcha e, como sombra, desaparece?

Quem me dera que  recebesse notificações pelas minhas transgressões! Talvez, assim, eu pudesse compreender  esses dias cinzentos.

Sei bem que meus dias estão determinados. Comigo está o número  que  limita o meu tempo, e não passarei além dele.  Como pó, serei afogada pelas águas que transbordarem daquele imenso rio, por tanto retidas.




Rio Negro/Manaus-Amazonas/Brasil



Chama Mamãe





domingo, 21 de fevereiro de 2016

Por acaso, fui feliz!





Por acaso, 
Em alguns momentos sou feliz.
Ao acordar vejo-me inteira,  
Em fina transparência...
Privilegiada em apreciar os primeiros raios de sol
Teimosamente me bronzeiam pelas frestas da janela.

Por acaso, 
Em alguns instantes fui feliz.
Lembranças de uma infância querida,
Brincadeira inocente, acalentava a vida,
Que ainda nem sabia,  
Mais tarde,  seria fugaz.

Por um bom tempo fui feliz...
Amei –te por inteiro, apaixonada.
Uma paixão desenfreada,
Tornava-me  capaz
De garimpar, para ti, todo o ouro do Sol.
Trazer-te a Lua prateada
E fazer da noite tua aurora orvalhada...
Sem comedidas forças,
Colorir as estrelas para enfeitar o teu Céu.

As borboletas, voltejando as flores, 
Testemunharam o tanto do pouco ...
Em que fui feliz.


Sakuntala, também conhecida como Vertumnus e Pomona (1888),
é um marco na trajetória de Camille Claudel.
A escultura é inspirada no conto do poeta hindu Kalidasa.
Retrata o momento do reencontro de Sakuntala e seu marido,
após um longo período de separação causado por um feitiço.


Mamãe Coruja

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Desatando nós...

Às vezes fujo de ti
Muito menos das vezes
Nas quais sumi de mim mesma,
Que foram tantas
E nem perceberas...

Andei longos caminhos,
Levando nos pés a minha saudade
Como calçados, cansados,
De enfrentar tantas pedras
E o peso, largo enfado,
Da tua ausência...
Enganosa paixão.

Desfiz minhas malas
Tantas vezes,
Para me fixar em ti
Colar minha pele na tua...
Um linho, com delicada frescura,
Entre ardentes desejos,
Cobrir.

Engano desejo disfarçado!
O que sempre tivera ao meu lado
Estava no outro extremo
N´outro lugar,
Difícil alcance
Custoso chegar.

Desatei teus nós tantas vezes.
Para nos fazermos amantes
Amarrei minha vida em um barbante
Entrelacei-me a ti,
E fiquei a esperar.
Que essa fuga cessasse em instante
Que fosse dalguém,
Não a minha...

Que se danem esses nós...!

Sim. Disse-te para dançarmos,
Gritarmos, cantarmos, rezarmos
ou escrevermos...
Porque tudo isso pensávamos acontecer.
Teus versos, agora,
Longe do meu alcance,
Mas ainda te peço que dances...
A melodia que eclodiu do eco,
Quando teu nome gritei.
Quanto a mim,
Seguirei na noite calma
Desatando os nós,
Que em ti deixei.


Arquivo pessoal
Foto:Chama Mamãe



Mamãe Coruja

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Dor Imperfeita

Olás...


Flora existente no meu local de trabalho



Já não como,
Não bebo
Não durmo
Sequer faço planos
Pra hoje e pra mais.
Até minh´alma de mim foi banida
E esta ferida,
Não cicatriza jamais,
Por te amar demais.
É por ti,
Que eu me faço inconstante
Estou perto e distante
De ti...
Amor.



Mamãe Coruja

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Museu do Seringal

 





 Olás...













Museu do Seringal (Vila Paraíso/Amazonas/Brasil) atrai visitantes desejosos em conhecer de perto o modo de ser e viver do homem do seringal. Inaugurado há quase 15 anos, o Museu mostra a era do ouro do Ciclo da Borracha e oferece uma ampla visão da situação dos seringais àquela época.

Resultado do polo de cinema do Amazonas, foi originalmente criado para servir de set de filmagens do seriado “A Selva”, filme de longa metragem luso-hispano-brasileiro, dirigido por Leonel Vieira, em 2002. É uma adaptação do romance A Selva, do escritor português Ferreira de Castro, que retrata suas experiências durante a sua permanência no Brasil.

Ferreira de Castro emigrou para o Brasil aos 12 anos,  onde viria a publicar o seu primeiro romance Criminoso por ambição, em 1916. Viveu por quatro anos no seringal Paraíso, em plena selva amazônica, junto à margem do rio Madeira.

Museu do Seringal retoma um passado histórico caracterizando a economia e a sociedade amazonense no início do século XX. É um museu diferente, a começar pelo jeito de chegar até ele. Não existem ruas nem estradas por perto. Apenas água e floresta cercam a construção de madeira nas margens do rio Negro, há meia hora de barco de Manaus. 

Além de um passeio de barco para ver de perto o encontro das águas, alimentar os botos e visitar os jardins de vitórias-régias,  algumas lanchas  que fazem a rota das comunidades também passam pelo Museu do Seringal. 


Mamãe Coruja

domingo, 31 de janeiro de 2016

Ideias em constante ebulição

Olás...

Ainda hoje me pergunto: Por que sentimos tanta pressa para crescer?
Por que, quando adultos, queremos retomar
o tempo no qual fomos crianças?
São idéias, em constante ebulição.
(Foto: Gustavo Pinheiro)



Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, "as crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Através das interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem as relações contraditórias que presenciam, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos.

Na pré-adolescência, a criança passa a compreender mais a sociedade, ordens sociais e grupos, o que torna esta faixa etária uma área instável de desenvolvimento psicológico. A participação num grupo de amigos que possuem gostos em comum passa a ser de maior importância para a criança, onde o modelo dado pelos amigos começa a obscurecer o modelo dado pelos pais. Começam as preocupações como a expectativa de ser aceito por um grupo, ou certas diferenças em relação a outras crianças da mesma faixa etária se agravam aqui, e são um aspecto de maior importância na adolescência. Muitas vezes, pré-adolescentes sentem-se rejeitados pela sociedade, podendo desencadear problemas psicológicos tais como depressão ou anorexia.

A pré-adolescência é marcada pelo início das intensas transformações físicas que transformam a criança em um adulto; é o início da puberdade, marcada principalmente pelo aumento do ritmo de crescimento corporal e pelo amadurecimento dos órgãos sexuais.

Nós, os pais, também passamos por essa fase turbulenta. E até compreendemos as angústias que povoam as mentes dessas novas gerações. Acontece que as mudanças ocorrem em tempo real, do dia para a noite, e são muitos os recursos que exercem influência sobre personalidades muitas vezes ainda em completa indefinição.

Mas o estar diário com os filhos, o olhar no olhos, procurar saber como foi o dia na escola, com os amigos, tendo um papo de amigos que se amam e se respeitam, posso afirmar sem nenhum medo de errar, que nenhum malefício de fora desse convívio familiar, irá interferir em que se tenha uma geração de jovens completamente saudáveis.



Fonte, com adaptações: https://pt.wikipedia.org/wiki/Crian%C3%A7a


Mamãe Coruja

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Dia Internacional do Riso

O riso protege o coração.
Ele melhora a função dos vasos sanguíneos,
aumenta o fluxo sanguíneo, ajudando a proteger você
contra um ataque cardíaco e outros problemas cardiovasculares.

Nada funciona de modo mais rápido ou confiável
para trazer o corpo e a mente de volta ao equilíbrio,
 do que uma boa risada.
O humor ilumina seus fardos, inspira esperança,
conecta você com os outros e o mantém ligado à terra.
O riso provoca a liberação de endorfinas,
substâncias químicas associadas ao bem-estar do corpo.
Os campeões das risadas animais são mesmo os macacos, especialmente os chimpanzés.
 Conseguem fazer uma expressão bem parecida com a dos humanos,
escancarando a boca e mostrando os dentes.
Uma demonstração de  amizade e descontração em brincadeiras e situações relaxadas.
O humor e o riso fortalecem seu sistema imunológico,
 aumentam sua energia, diminuem a dor
e protegem você contra os efeitos nocivos do estresse

Rir ainda é o melhor remédio.
O riso nos traz benefícios da cabeça aos pés.
Uma boa gargalhada pode fazer muito por você!
O riso, além de trazer aquela sensação de bem-estar conhecida e tão almeijada por nós,
 também é um grande aliado da saúde.
Ajuda a prevenir doenças e auxilia o organismo a cumprir suas funções diárias.
 
O bom humor é contagiante.
O som de gargalhadas é muito mais contagioso
do que qualquer tosse,
fungada ou espirro.


Melhor que tudo, esse medicamento não tem preço,
 é divertido, livre e fácil de usar.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

À espera do amanhã

Olás...


Nossos dias são feitos de tudo.
De desejos, de inatuais esperanças.
De inspirações buscadas nas adversas fontes.
Do medo estampado em muitos semblantes,
Que encadeiam nossa coragem
E teimosamente seguimos.
Adiante!
Sim, nossos dias são como diamante,
Preciosos, delicados, cortantes.
Momentos da mais louca e falsa alegria,
Ou de tristezas, confundidas,
Com os raios de sol,
Quando se põem a brilhar.
De que são feitos, afinal, nossos dias?
De desenlaces, reconciliações e queixas.
Futilidades e inúteis agonias.
Nos quais as lágrimas inundaram
Os corações daqueles que amaram...
Em vão.
Ah! Mas o que importam esses dias,
Se o amanhã, mesmo que seja um mistério,
Ainda que muitos não queiram,
Será de tantos que esperam.
E, como diamante que brilha,
Alheio a qualquer vontade,
Ele virá, como uma música suave...
A nos embalar.




Nascimento de quelônios da Amazônia



Mamãe Coruja

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Quando me chamastes..

Olás...


Atenderei ao teu chamado
Para voar além-mar, céu azul, horizonte.
Para algum lugar.
Qualquer lugar, contigo, é o Paraíso.
Porém, siga em frente.
Seja o meu rumo, minha direção.
Deixe marcas desse voo,
Conduza o meu coração.
Acompanhar-te-ei em breve.
Agora,  aquieto-me, como a águia.
Revejo meus atos, mudança necessária.
Estou reclusa, refletindo sobre mim.
Espere-me nesse lugar tão sonhado por ti.
Nele me imagino te encontrar.
Por enquanto, estou frágil para voar,
Sem forças para agarrar meus desafios.
Hoje, o sofrimento fez-me curvar,
Tornando meu corpo pesado.
Como a tua gaivota, também alcei muitos voos.
Foram tantos, sem pedir socorros.
Mas, por enquanto, reclusa, deixe-me ficar.
Alcançar-te-ei brevemente,
Quando menos esperares, estarei à frente.
Preparando-te um lugar perfeito
Para nossos poemas, livres,
Sentirem a liberdade e poderem gritar.
Vou morrer um pouco, é preciso!
Porque viver não é tão preciso,
Como afirmam os mortais.
Siga... voe o quanto puderes.
Encontre-me no alto da montanha.
É lá que farei nosso ninho.
Quando lá eu chegar, e te encontrar,
Faremos nosso voo, firme e pleno.
Então saberei...
Que sou feliz!


Imagem: Internet

Em resposta ao belíssimo poema O Chamamento da Gaivota, 
do poeta português, Vitor Costeira
*https://plus.google.com/+BlogueImagimagem)




Mamãe Coruja

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Os pais influenciam a personalidade dos filhos?

Olás...


Nos últimos dias uma foto despertou em mim a ideia de escrever sobre assunto,  ainda tão instigante, sobre a construção da personalidade de cada indivíduo. Qual a influência da genética e do meio-ambiente na personalidade do indivíduo?Afinal, como “Mamãe Coruja”, qual a minha influência na personalidade dos meus filhos?

Li acerca de muitas teorias de filósofos, psicólogos, neurocientistas, geneticistas e até literatos. A ciência moderna tenta há séculos explicar sobre a intrincada malha que forma o nosso comportamento. É muito interessante  como eles sempre esbarraram em  dúvidas.

Mas compartilho com as premissas de alguns deles, como as de Sigmund Freud, ao afirmar que a influência dos pais na personalidade dos filhos é imprevisível. Sim, os pais são tidos como os agentes mais importantes na criação de uma pessoa. São os primeiros a conter o que há de animal em nós, nos ensinando a controlar desejos em nome de regras morais, castigos e convenções da civilização. Com essa premissa, Freud foi, ao lado de Darwin, um dos grandes pensadores do século XIX, a abalar a ideia de Deus, mostrando que as noções de pecado e culpa são transmitidas pelos pais e podem ser a causa de vários dos nossos problemas. Do conflito entre os nossos desejos e culpas, sairiam traços de personalidade (como a timidez, a vergonha), recalques inconscientes e fraquezas que nos acompanham vida afora. Freud vai mais longe: para ele, o jeito com que meninos e meninas lidam com a figura do pai e da mãe é essencial para definir a sexualidade da pessoa.

Até o ponto que a genética permite, um bebê recém-nascido é como um molde de argila flexível. Conforme interage com os adultos, a criança se molda ao mundo em que nasceu. O que ele aprender, ver, ouvir, sentir será armazenado no cérebro e irá compor a maneira como agirá no futuro. Ao nascer, vai demorar meses até conceber ideias básicas, como a de ser distinto das coisas ao redor. Aos poucos, porém, dar-se-á conta de que consegue mover algumas dessas coisas, seus braços e pernas, e que outros seres fazem o mesmo. Assim, a partir do outro, o bebê começa a ter a noção de eu, de que é um indivíduo. Daí a influência do meio em que vive ser um dos fatores que irá formar a sua personalidade, além dos traços genéticos, é claro.

Se os adultos ao redor forem lobos ou cavalos, passará a vida toda uivando ou relinchando e bebendo água com a língua (como aconteceu como o Selvagem de Aveyron, garoto encontrado na França em 1799, que viveu a infância isolado na floresta e, por volta dos 12 anos, trotava, farejando e se alimentado de raízes).

Entre lobos ou humanos, a criança aprende o que pode ou não fazer. Percebe que, ao chorar mais alto, a mamadeira vem mais depressa. Portanto, vale a pena ser manhosa, pelo menos de vez em quando. Quando joga um objeto no chão, é repreendida pela mãe e ganha uma bela bronca. Também começa a diferenciar sentimentos: o que achava ser dor, começa a receber nomes diferentes como: fome, ciúme, medo. As sinapses cerebrais são construídas a partir das relações externas. Sem interação com o outro, não há personalidade, afirma Benito Damasceno, neurologista e professor de neuropsicologia, da Unicamp.

Sem dúvida alguma, mais importantes dos nossos primeiros anos são os pais. Com eles, exercitamos uma das nossas grandes capacidades inatas: a de imitar. Os pais servem de referência para estabelecermos padrões de sentimentos e atitudes. O filho que imita o pai se barbeando, também conhece com ele jeitos de se relacionar com as mulheres, modos de regular o tom de voz e até preferências intelectuais.

Um estudo citado no livro Freaknomics, de Steven Levitt e Stephen Dubnere, realizado no ano de 1991 com 20 mil crianças americanas até a 5ª série, tentou relacionar o desempenho escolar das crianças com o perfil dos pais e a convivência de todos em casa. Descobriu que as boas notas não estão relacionadas àquilo que os pais fazem: se mandam os filhos lerem ou leem para eles antes de dormir, mas ao que eles são: se têm o hábito de ler para si próprios, se têm livros em casa e se são bem instruídos.

Nos primeiros anos, o filho se identifica com quem faz o papel de pais e passa muito tempo copiando suas ações, afirma Eloísa Lacerda, fonoaudióloga e psicanalista da PUC-SP especializada na 1ª infância. Talvez se explique assim o caso do filho que passa a infância apanhando e, quando adulto, vira um pai igualmente agressivo. A mesma teoria serviria também para explicar o contrário: o filho que, em alguns pontos, se torna o contrário dos pais. É que eles podem servir de referência de traços aos quais reagimos. Assim os psicólogos explicam a família do casal que passa as noites brigando e tem um filho do jeito oposto, tranquilo e pacificador.

 Vale a regra do: cada caso é um caso, que nem sempre é comprovada por estatísticas. Além disso, o convívio com os pais é só uma etapa do desenvolvimento. Em casa, a criança cria ferramentas que poderá desenvolver ou não quando passar por outro desafio: a busca para ganhar destaque entre seus iguais.

Mas se pensávamos que apenas os pais influenciam, as amizades influenciam muito mais do que imaginamos. Em 1998, a psicóloga americana Judith Rich Harris causou uma revolução nas teorias da personalidade ao afirmar que o convívio com os pais é só um dos fatores que influenciam a personalidade dos filhos, e um dos menos importantes. No livro Diga-me com Quem Anda..., ela fala que as relações horizontais, dos 6 aos 16 anos, da criança com seus pares, o  grupo de amigos da escola ou da vizinhança, são o grande definidor da personalidade adulta.

Com seu livro desmistificador, Judith Harris tranquiliza os pais quanto a seu real papel na formação dos filhos. Pois como milhares deles já podiam intuir por sua própria experiência, apesar de toda a pressão cultural na direção contrária, pais dedicados e atentos não garantem filhos felizes e seguros.


Disso tudo, concluo: Os pais devem fazer da melhor maneira a parte que lhes cabem em educar seus filhos, não deixando essa incumbência às escolas, alegando falta de tempo ou de paciência para lidarem com os filhos. Devem mostrar o certo e o errado, mas dando livre arbítrio para suas escolhas e consequências. Afinal, por mais que queiramos, os genes não restringem a liberdade humana. Eles a possibilitam. Por último, amor e atenção na dosagem certa. A overdose de amor sufoca. Atenção em demasia faz com que pais se esqueçam de que também precisam respirar e viver. 

Não sei até onde meus genes e o ambiente no qual criei meus filhos interferem em suas personalidades. Sei que fiz o melhor que eu tinha de mim. Penso que ainda faça desse jeito, mas que pode já não ser o jeito perfeito para eles, justamente porque fizeram suas escolhas.


A gente só deseja que sejam felizes,
mesmo que cada um tenha conceito diferenciado do que seja a Felicidade

(Foto: Gustavo Pinheiro)

As referências estão nas citações dos autores/Livros/Artigos.


Mamãe Coruja



terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Presa



 
Não sou livre!

Meu caminho em busca da liberdade é difícil,
Íngreme.
Atravesso o vale da sombra da morte,
Diariamente.
Presa às próprias correntes,
Sequer tento tirar as de tantos,
Mais escravos do que eu.

Não estou livre!

Meus atos desafiam meus pensamentos,
Constante embate.
Ainda rastejo submissa às regras da sociedade.
Às minhas próprias regras me sujeito,
Sobrepondo-se ao meu desejo de voar.
Ainda me sinto presa ao querer,
Não renuncio, para não me fazer sofrer.
Faço as minhas leis tentando ser livre,
Mas a liberdade tarda a irromper minh´alma,
Enquanto  deuses traçam  meu destino
Delimitam meu caminho
Com tabus e preconceitos arraigados,
Travestidos de cortesia e amabilidade
Quando...
Somente quero gritar!

Não. Não sou livre de todo.
Talvez nem livre de nada.

Sinto-me parte da Natureza,
Mas incapacitada para aplaudir a beleza,
Que ela me dá.
À sombra da comodidade dos arranha-céus,
Presa às amarras da hipocrisia, da burguesia,
Completa letargia.

Como estar livre, se...

Ainda tenho fome?
Fome de Justiça.
Fome de Amor.
Fome de Igualdade.
Fome de Honestidade.
Fome de Felicidade.

Não. Não sou livre!

Sinto-me presa, incapaz
.
 
Arara-vermelha (Ara chloropterus)

Mamãe Coruja

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

... Dois anos!

Olás...



Parabéns ao blog!
São dois anos.
Algum tempo de hibernação.
Outros, de devoção.
E lá se foi um tempo, que nem vislumbrava acontecer.
Algum dia,
 Este espaço servirá para eu ocupar algum tempo vazio.
Quando a idade avançar, sobremaneira,
Que meu corpo não desfaleça,
 Minha mente permaneça sã.
A escrita, seja eterna companheira.
Há dias que a preguiça acontece,
A criatividade adormece,
Nada quero escrever.
Em outros, 
Pareço um vulcão em chamas.
Um Tsunami!
Enchentes transbordando,
E vejo, 
Indubitavelmente,
Entre preguiça e vontade,
Que ainda há muito por fazer.


Bicho-Preguiça


Mamãe Coruja